Entre sons, serras e encontros: o que se vive no Sarará 2025?
- Revista Curió
- 4 de jun.
- 4 min de leitura
Por: Erick Martins
Última atualização: 03/06
Com um manifesto centrado na ideia de celebrar a multiplicidade e a liberdade de ser, o Festival Sarará comemorou, em 24 de maio de 2025, sua 12ª edição. Sob a promessa de criar uma experiência de conexão entre pessoas diversas, unindo música, arte e respeito como caminhos para sentir e conviver, o evento — que é um pilar no calendário cultural da capital mineira — retornou mais uma vez ao Parque das Mangabeiras. Em meio a uma tarde ensolarada e ao cenário deslumbrante do parque, o festival trouxe ao palco grandes nomes da música nacional e belo-horizontina.
Assim como no ano anterior, A Macaco, produtora do evento, escolheu o Parque das Mangabeiras para sediar o festival. A mudança reforça o posicionamento da marca, que tem o “sentir” como um dos norteadores para a estratégia de experiência do Sarará. Além disso, a escolha traz à tona discussões importantes sobre preservação e ocupação do Parque, situado na Serra do Curral — espaço ameaçado pela mineração devido à concessão de licença para exploração por parte do Estado de Minas Gerais a empresas privadas.
A curadoria contou com diferentes ritmos em uma mistura diversa e representativa da música nacional e local contemporânea. Do rap ao samba, do groove à ancestralidade afro, o festival reuniu nomes consagrados como Arlindinho, Liniker e BK’ a potências da nova cena como Lamparina, Iza Sabino, Budah, TZ da Coronel e O Kanalha. Os artistas foram distribuídos entre os tradicionais palcos Amstel e Paredão, além de um terceiro dedicado a rodas de samba com coletivos tradicionais de Belo Horizonte, como Adriana Araújo com o Samba do Cacá e o Simplicidade Samba do Três Preto. Quem compareceu ao festival também pôde assistir à Red Bull Dance Your Style — competição de dança da Red Bull — além de aproveitar diferentes ativações das marcas patrocinadoras.
EXPERIÊNCIA NO FESTIVAL
Desde sua última edição o festival tem buscado se adaptar à nova casa, mas ainda enfrenta problemas críticos de estrutura. Assim como no ano anterior, desafios de engenharia de som e logística marcaram a experiência de quem compareceu ao parque. Som vazado entre palcos e dificuldades de deslocamento dentro e nos arredores do evento foram alguns dos principais pontos negativos relatados nas redes sociais.
Há quem peça o retorno do festival à tradicional esplanada do Mineirão. Mas, num cenário em que 43% dos festivais brasileiros acontecem apenas na região Sudeste (Pesquisa Mapa dos Festivais 2024), testar novos formatos se torna uma estratégia comercial de diferenciação necessária e o caminho escolhido tende a agradar grande parte do público. Combinar música e paisagens verdes é uma fórmula que funciona — e pode ser considerada um dos principais fatores de sucesso na experiência positiva de tantos outros festivais, como o Rock The Mountain e o “wood-stock mineiro”, o Sensacional.
Apesar dos problemas de infraestrutura, a estratégia de curadoria acerta no que é essencial para qualquer festival: música boa. Com um line-up que conversa entre si e, ainda assim, consegue agradar diferentes públicos, a edição de 2025 destaca a ousadia do Sarará em olhar para além do algoritmo e entrega o que, em teoria, deveria ser a principal busca pelo público que curte festivais: cantar o que já conhece e descobrir novas canções. Outro ponto importante a ser destacado aqui é o notório esforço em valorizar artistas importantes para a música belo-horizontina e ceder palco a projetos que fomentam a cultura de festa ao longo de todo o ano na cidade, como a Baile Room, Samba do Cacá e o Três Preto.
Energia e entrega marcam os shows de Lamparina, Liniker, Arlindinho, BK’ e Budah, destaques do festival.
INCLUSÃO E RESPONSABILIDADE SOCIAL
A última edição do Sarará também reforçou seu compromisso com a inclusão por meio de ações concretas, como a concessão de ingressos gratuitos para pessoas trans, travestis e não binárias, além de uma área com equipe de suporte dedicada a pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida.
O festival também reafirma seu papel no fortalecimento do mercado cultural de Belo Horizonte ao promover e valorizar artistas e profissionais locais. Ao garantir representantes da cena local no line-up ou até mesmo convidá-los a acompanhar os shows e ampliar seus repertórios, o Sarará investe na formação de novos talentos e no fortalecimento do ecossistema de produção cultural na cidade.
NEM TODO MUNDO VAI CURTIR… E TÁ TUDO BEM
É difícil agradar a todos e as opiniões divergem entre si. Fato é que o Festival Sarará é importante e seu valor é inestimável para a capital e a música mineira. É inegável que o evento tem enfrentado problemas — assim como também é inegável que tem se preocupado consistentemente em corrigi-los. Uma edição majoritariamente preta e, principalmente, com artistas que discutem suas vivências em seus trabalhos ajudam a concluir: se você assistiu Liniker, BK' e Arlindinho, acompanhou uma roda de samba ou se jogou na pista da Baile Room e absolutamente nada te agradou... talvez este não seja o festival pra você.
FUTURO DO FESTIVAL
No último ano, além do festival, a equipe do Sarará já havia declarado a intenção de propor um novo formato: um circuito cultural com diversas expressões artísticas ao longo dos dias que antecedem o evento. Por dificuldades operacionais, a ação foi adiada — mas acontece este ano, agora com datas e artistas já divulgados.
Entre os dias 28 de maio e 2 de junho, acontece o Circuito Cultural Sarará, com mostras de arte, cinema, projeções e shows de artistas locais e nacionais como Paige, Joyce Alane, Nath Rodrigues, Bruna Black, DJ Kingdom, DJ Akila, entre outros. Não deixe de conferir.
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