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A cultura de permuta na terra do conteúdo com sotaque

  • Foto do escritor: Revista Curió
    Revista Curió
  • 19 de ago.
  • 3 min de leitura

Do que adianta nosso sotaque ser “bão demais”, se a gente não vai ganhar nada com isso?



Por: Tomtom - Gleidistone Silva

Última Atualização: 19/08/2025


Foto: Gleidistone Silva
Foto: Gleidistone Silva

O Brasil se consolidou como uma potência na economia dos criadores de conteúdo. Somos o segundo país com o maior número de influenciadores no mundo. Segundo levantamento da Influency.me, são mais de 2 milhões de pessoas que, juntas, movimentarão um mercado global estimado em US$ 500 bilhões até 2027. 


Em meio a essa efervescência, um movimento silencioso, porém poderoso, ganha força: a regionalização da influência. E é aqui, em Belo Horizonte, que essa tendência se revela com suas oportunidades, mas também com muitas contradições.

Beagá tem visto muitos criadores talentosíssimos emergirem nos últimos 4 anos. De rolês à moda, humor ao estilo de vida e até decepções amorosas, nosso jeitinho único de ser tornou-se uma excelente oportunidade para a produção de conteúdo autêntico e com alto poder de conexão. 


As marcas, aos poucos, percebem que um diálogo e um conteúdo mais “vida real” gera resultados muito mais eficazes do que campanhas genéricas com mega influenciadores do eixo Rio-São Paulo. A diversidade do Brasil começa finalmente a ser vista como uma potência no marketing e ela tem nome. É a influência regional, que cresce a passos largos em 2025. As pessoas querem se ver na tela, ouvir seu sotaque, e os criadores de BH são a ponte para essa identificação.


Apesar desse crescimento e desse fenômeno da regionalização, nem tudo são flores nesse universo glamourizado da criação de conteúdo. Existe um vício crônico no mercado local: a cultura da permuta e do recebido, em que muitas marcas ainda enxergam o criador de conteúdo como um mero divulgador de eventos em troca de um convite ou um promotor de produtos em troca do próprio produto. 


Essa visão, além de amadora, desvaloriza e precariza o trabalho de profissionais que dedicam tempo, estudam, investem em equipamentos e, principalmente, constroem audiências engajadas e qualificadas. Por outro lado, existe uma série de novos influenciadores, que veem nesse título uma chance de ganhar coisas e não pagar para entrar em eventos. Não criam e não agregam em nada na vida das pessoas, apenas existem.

Publicidade não é favor, é trabalho. E como tal, precisa ser remunerada. É fundamental que os criadores de Belo Horizonte entendam a importância de precificar seu trabalho de forma justa. Isso envolve calcular custos, analisar o alcance, o engajamento e, acima de tudo, o valor que sua influência pode gerar ao ser associada a uma marca. Cobrar pelo seu trabalho não é arrogância, é profissionalismo. E é essa postura que irá educar o mercado e elevar o nível da economia criativa na nossa cidade.


Outro ponto que assombra BH é a síndrome do vira-lata. Parece que o criador de conteúdo de Beagá só ganha o devido reconhecimento e a "bênção" do mercado local depois que faz as malas e se muda para São Paulo. É como se a validação da capital paulista fosse um selo de qualidade indispensável. Essa mentalidade não só drena nossos talentos, como também empobrece nosso ecossistema criativo. Esses criadores são relevantes e fazem sentido para as pessoas justamente por serem pessoas que vivem o cotidiano local. Estão presentes nos mesmos lugares, roles e vivem na mesma cidade que suas audiências. É realmente muito triste ver uma galera tão talentosa, ter que deixar suas famílias e amigos para viver esse mercado numa cidade como São Paulo, porque não encontram em sua própria terra, o reconhecimento que deveriam ter pelo mercado publicitário. 


A economia dos criadores é uma realidade sem volta em Belo Horizonte e, para construir um mercado relevante e justo para quem produz conteúdo, temos a faca e o queijo na mão, literalmente. A regionalização é nossa grande aliada, mas ela só se tornará uma potência real quando marcas e criadores se profissionalizarem e entenderem o valor da publicidade. O futuro da influência tem sotaque, e o nosso é "bão demais" para ser desperdiçado.


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