“Minas” de Milton Nascimento completa 50 anos: Qual o legado histórico e cultural de um dos álbuns mais relevantes da música brasileira?
- Revista Curió
- 30 de abr.
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Bituca explora a afro-brasilidade na mesma medida em que investiga as raízes mineiras no seu sétimo álbum de estúdio, “Minas” , que completa 50 anos este ano.
Por: Alicia Coura

“Minas” é o sétimo disco da carreira de Milton Nascimento. Lançado em 1975, o álbum pode ser considerado um aconchego familiar para aqueles que sentem saudade de casa. Da primeira à última faixa, Milton explora os caminhos da afro-brasilidade ao mesclar letras potentes e políticas com vocais doces e instrumentais variados. Além de relembrar suas raízes, o álbum é marcado por referências regionais, principalmente com sonoridades que remetem à “mineiridade”.
Para entender um pouco melhor o legado histórico e cultural de “Minas”, é preciso entender quem foi Milton Nascimento e porque ele ainda é um dos artistas mais atuais e relevantes do contexto histórico atual.
Milton Nascimento, conhecido carinhosamente como “Bituca”, é um dos principais artistas da música brasileira. Com o legado de mais de 60 anos de carreira, 34 álbuns de estúdio, além de diversas colaborações nacionais e internacionais, o cantor é dono de uma das vozes mais marcantes do Brasil.
Nascido em 26 de outubro de 1942, na cidade do Rio de Janeiro, Bituca poderia ter tido todas as chances do mundo de ser carioca, mas foi escolhido pelo coração de Minas. Ainda bem pequeno, ele foi adotado por uma família de Três Pontas, no interior de Minas Gerais, onde viveu toda sua infância e adolescência. Mas foi nos anos 60, com apenas 20 anos de idade, que ele se mudou para Belo Horizonte e depois disso tudo virou história. Chegando na cidade, o artista virou frequentador nato da boêmia belorizontina, e foi a partir daí que ele conheceu três irmãos que viriam a ser os seus futuros parceiros musicais. Pelas esquinas do bairro Santa Tereza, região leste de BH, Bituca encontrou os irmãos Borges, Lô Borges, Márcio Borges e Marilton Borges, juntos formaram o “Clube da Esquina” na década de 60. Esse movimento se popularizou rapidamente na capital mineira, o que deixou Milton e os irmãos Borges em evidência no cenário musical.
Conhecido por referenciar a mineiridade em todos os seus trabalhos, Milton fez de Minas Gerais a sua identidade musical e reconhece o estado como uma extensão de seu lar. No álbum “Minas”, além do título unir as duas primeiras sílabas de seu nome e remeter ao estado de Minas Gerais, é apresentado 13 faixas que traduzem a identidade mineira em formato de jazz, rock progressivo e bossa nova. As canções do disco abordam além da vivência cotidiana, a angústia do cenário político vigente relacionado ao contexto da ditadura militar da época. Anseios pela esperança e busca pela liberdade, podem ser citadas a partir da primeira canção “Minas”, que apresenta um poderoso instrumental com coro infantil como abertura do álbum. A partir desse primeiro contato, Milton embarca em um movimento nostálgico que demonstra uma harmonia musical a cada letra e arranjo, dos mais simples aos complexos.
“Minas” é cuidadoso ao mesmo passo que dramatiza o sentimento humano. Milton sintetiza as emoções e busca representar os anseios mineiros em todas as faixas de forma crua e sentimental. Como reafirmação regional, o álbum pode ser considerado um dos marcos da carreira do artista, que busca informar e deixar marcado de onde veio. A representação do interior no meio urbano pode ser um dos principais diferenciais do álbum, na mesma medida que o álbum constrói uma sensação de conforto enquanto se escuta as canções tomando um café novinho feito na roça.
A simplicidade de Milton atravessou gêneros musicais e culturas. 50 anos depois o álbum ainda é reverenciado tanto pela capa emblemática, quanto pelas letras e canções que marcaram uma geração inteira. Recentemente a música “Paula e Bebeto”, do mesmo disco, foi regravada por Johnny Hooker e Kell Smith no álbum “ReNASCIMENTO”, uma coletânea que reúne algumas regravações do cantor como trilha sonora adicional do documentário “Milton Bituca Nascimento” lançado em março deste ano. A nova geração de jovens musicistas também não deixa o legado de Milton passar despercebido. Artistas como BK, Djonga, Liniker e Os Garotin são fãs declarados de Bituca e deixam em evidência suas referências musicais em seus novos lançamentos.
Em 2022, o cantor anunciou a sua aposentadoria dos palcos com uma turnê emocionante pelo Brasil e outros países. “A última sessão da música” foi o nome dado aos últimos shows da carreira de “Bituca”, que teve um encerramento simbólico no dia 13 de novembro de 2022 em Belo Horizonte. Apesar de ter se aposentado dos palcos, o legado de Milton Nascimento é atemporal e será sempre lembrado pela sua potência, identidade e referência. Assim como citado na sua música “Para Lennon e McCartney” de 1970, é assim que queremos relembrar a trajetória de Milton Nascimento: “Sou o mundo, sou Minas Gerais”.
Para os fãs do cantor, no dia 4 de maio irá ocorrer o premiado musical “Bituca, Milton Nascimento para Crianças”, uma obra que retrata, de forma lúdica, a trajetória de desafios e conquistas de Bituca ao longo da vida. Com apresentação única, o espetáculo acontece no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes, às 17h do dia 4 de maio.
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