Quando fantasia se confunde com realidade: O estrondoso sucesso de Guerreiras do K-pop e seu impacto na indústria musical
- Revista Curió
- 13 de ago.
- 3 min de leitura
Por: Pedro Sena
Última Atualização: 13/08/2025

O recente lançamento da Netflix, Guerreiras do K-pop, é o exemplo perfeito de como um produto audiovisual, quando bem feito, consegue transpor a barreira da ficção e influenciar positivamente o mainstream. Produzido pela Sony Pictures e lançado pela Netflix, o longa foi muito bem recebido pelo público e pela crítica, alcançando 76 pontos no Metacritic e 97% de aprovação no Rotten Tomatoes, se equiparando – e até superando – grandes musicais como Wicked e Encanto.
Contudo, o que mais surpreende não são as conquistas cinematográficas do longa-metragem, mas sim a performance invejável que as composições vêm alcançando nas paradas globais. Já é a sexta semana que Golden - canção performada pelo trio de protagonistas, Huntrix - se mantém no topo da Hot 100 da Billboard, atingindo recentemente o primeiro lugar e batendo o recorde como o primeiro grupo feminino de K-pop a alcançar a 1ª posição. No Spotify e no Apple Music a faixa segue já há algum tempo na 1ª posição dos hits globais dessas plataformas. Outras sete canções da trilha sonora também despontaram nas paradas, como How It’s Done e Takedown, das Huntrix, além de Soda Pop e Your Idol, da boy band antagonista Saja Boys.
Esse sucesso estrondoso pode ser explicado por alguns fatores, sendo o principal a equipe de peso responsável pela produção da trilha sonora, com nomes influentes na indústria do K-pop como Teddy Park (BLACKPINK) e Jenna Andrews (BTS e TXT).
E também pela participação do grupo TWICE, que integra a terceira geração do K-pop e, desde 2015, é extremamente conhecido na indústria.
Vale destacar a qualidade das vocalistas escolhidas para dar voz às protagonistas: EJAE, como Rumi; Audrey Nuna, como Mira; e Rei Ami, como Zoey. Embora menos conhecidas que as integrantes do TWICE, todas possuem carreiras consistentes como cantoras e compositoras, e foram essenciais para a construção das personagens.
A vida imitando a arte
O roteiro de Guerreiras do K-pop apresenta um mundo em que a humanidade é assombrada por demônios do submundo e só pode combatê-los graças a guerreiras espirituais que extraem poder dos sentimentos positivos despertados pela música em seus fãs.
No enredo, as Huntrix — trio de guerreiras da atualidade — estão prestes a concluir o selamento de uma barreira de proteção capaz de impedir para sempre a invasão dos demônios. A chave para completá-la é o single Golden, cuja simbologia remete à barreira sendo selada quando esta se tornar inteiramente dourada. O que as protagonistas não imaginavam era que, no submundo, Jinu (líder dos Saja Boys) planejava criar uma boy band para neutralizar a influência das Huntrix e enfraquecer seu poder.
Ao longo do filme, notícias fictícias, gráficos e outros recursos visuais ilustram a acirrada disputa entre Huntrix e Saja Boys nas paradas de sucesso – uma narrativa que ultrapassou as telas e se fez presente nas paradas mundiais. Fãs do longa acompanharam, em tempo real, a batalha por streams entre as duas bandas fictícias, o que trouxe ainda mais audiência para a animação.
Crítica à indústria
Apesar da repercussão positiva, a popularidade da trilha sonora também abriu espaço para críticas aos padrões de consumo da indústria musical. As Huntrix bateram o recorde de grupo feminino de K-pop com a maior colocação nas paradas, superando o New Jeans, enquanto os Saja Boys conquistaram o recorde global, tornando-se a boy band de K-pop mais ouvida da história.
Esse fenômeno está sendo associado a toda resistência histórica do Ocidente em consumir cultura oriental. Em uma sociedade de forte influência americana, marcada pelo imperialismo, apenas personagens fictícios com feições orientais suavizadas e cantando em inglês conseguiram atravessar uma barreira cultural permeada por preconceito e xenofobia.
Resta esperar que Guerreiras do K-pop seja mais do que um sucesso pontual e que sirva como porta de entrada para uma indústria musical menos centralizada e mais aberta à pluralidade cultural. Que, no futuro, a diversidade étnica ocupe o mainstream não como exceção, mas como regra.
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