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Capital mineira ganha contornos latino-americanos durante a 19ª CineBH

  • Foto do escritor: Revista Curió
    Revista Curió
  • 26 de set.
  • 5 min de leitura

Atualizado: 29 de set.

"O Agente Secreto" e homenagens a Carlos Francisco marcaram os primeiros dias do evento


Por: Ana Clara Moreira, Lara Gomes e Pedro Fraga

Última atualização: 26/09/2025


Pré-estreia de “O Agente Secreto” na abertura da mostra | Leo Lara/Universo Produção
Pré-estreia de “O Agente Secreto” na abertura da mostra | Leo Lara/Universo Produção

Na última semana de setembro, Belo Horizonte se torna a capital latino-americana do cinema. Com apresentações gratuitas de mais de 100 filmes, entre elas a pré-estreia do aguardado O Agente Secreto (2025), a capital mineira sedia a 19ª CineBH | International Film Festival, importante plataforma para a exibição e discussão do cinema.


Neste ano, a programação se concentra em desvendar a nova cadeia produtiva audiovisual da América Latina, estabelecer conexões com a produção audiovisual de Minas e do Brasil, além de exibir e estabelecer intercâmbios com a produção latino-americana.


Durante a cerimônia de abertura, realizada no Cine Theatro Brasil, a coordenadora da CineBH, Raquel Hallak, afirmou que o evento “é um espaço de trocas sinceras, de descobertas, de articulação e de celebração. Um espaço para reafirmar nosso compromisso com o cinema vivo, diverso, inquieto e transformador. É também uma plataforma de projeção da força criativa latino-americana. Somos 20 países, mais de 660 milhões de pessoas, um continente de culturas híbridas, memórias em disputa e narrativas que ainda precisam ser contadas por nós, com a nossa própria voz”.


Coordenadora da CineBH, Raquel Hallak | Leo Lara/Universo Produção
Coordenadora da CineBH, Raquel Hallak | Leo Lara/Universo Produção

Tradicionalmente marcada pelo intercâmbio cultural e artístico entre filmes e realizadores do continente, a mostra conta com uma seleção diversificada de trabalhos que abordam questões sociais, políticas e culturais nas narrativas cinematográficas da América Latina.


Celebrar o cinema latino-americano é dizer que outros mundos são possíveis. É afirmar que as telas podem ser territórios de liberdade, denúncia, memória e som. No entanto, não há futuro sem política pública sólida. Não há futuro sem investimento em cultura, sem acesso, sem diversidade. Não há futuro se nossos talentos forem expulsos pela precarização, pelo desmonte e pela desvalorização do setor. O audiovisual precisa ser visto como parte da soberania cultural e política de um país, como força de desenvolvimento, de geração de renda, de formação crítica, mas também como aquilo que nos ajuda a compreender quem somos, de onde viemos e para onde queremos ir”, refletiu Raquel.


Apresentação do grupo Favelinha Dance na abertura da 19ª CineBH | Leo Fontes/Universo Produção
Apresentação do grupo Favelinha Dance na abertura da 19ª CineBH | Leo Fontes/Universo Produção

A abertura do evento também contou com apresentações de artistas mineiros de diferentes segmentos. O grupo de percussão Agbara Groove, que faz parte do coletivo musical Arautos do Gueto, abriu a cerimônia com muita energia. Quem também subiu ao palco foi o Favelinha Dance, dedicado ao estudo do funk e criado com objetivo de ampliar o acesso à cultura nas comunidades periféricas. O público também assistiu à cantora belo-horizontina Josy.Anne, experiente no teatro, que performou mesclando música, percussão e poesia.


A abertura do festival foi repleta de apresentações e elementos que celebraram o fazer cinematográfico e acolheram o público em um evento envolvente. Desde à distribuição de brindes, como um livro ilustrado do cinema brasileiro até as apresentações dos artistas locais, a CineBH conseguiu transformar a ocasião em um momento de entusiasmo coletivo, refletindo o clima de valorização e curiosidade em torno do cinema nacional.


Esse movimento de aproximação com o público ganhou ainda mais força com a aguardada exibição do representante brasileiro no Oscar 2026, O Agente Secreto (2025), que teve a sessão de pré-estreia em Belo Horizonte com auditório lotado, além de uma fila para retirada dos ingressos que se estendeu pelo quarteirão, revelando a dimensão da expectativa que cercava a sessão.


O Agente Secreto


Ambientado no período da ditadura militar brasileira, O Agente Secreto (2025) acompanha a trajetória de Marcelo (Wagner Moura), professor universitário que deixa São Paulo e vai para Recife na tentativa de fugir da violência e com esperanças de uma nova vida. Com traços de realismo mágico adotados para trabalhar memória e resistência política no Brasil de 1977, o longa teve recepções mistas.


“O Agente Secreto”, protagonizado por Wagner Moura | Victor Jucá/Divulgação
“O Agente Secreto”, protagonizado por Wagner Moura | Victor Jucá/Divulgação

Muito comparado a Ainda Estou Aqui (2024) – mais recente indicado do Brasil ao Oscar na categoria de Melhor Filme Estrangeiro – por causa da temática comum aos dois filmes, a obra de Kleber Mendonça foi classificada pelo próprio diretor como uma obra mais “cética”, o que levou parte do público a considerá-la pouco política. Apesar de muito diferente do filme de Walter Salles, O Agente Secreto (2025) também evidencia as dificuldades de lidar com a memória de um país marcado pela violência institucional do período ditatorial.


A pré-estreia na capital mineira foi recebida como um acontecimento coletivo, reforçando a vitalidade do cinema nacional em um momento em que o Brasil inteiro se volta para suas próprias narrativas. O longa carrega marcas recorrentes na filmografia de Kleber Mendonça Filho, como a atenção aos espaços como agentes de memória e a multiplicidade de personagens que compõem a narrativa.


A exibição de O Agente Secreto (2025) reafirmou o papel do cinema como registro cultural e dispositivo de imaginação e resistência, sintetizando o espírito da CineBH e projetando o cinema nacional como espaço de invenção coletiva.


Homenagem a Carlos Francisco


Homenageado desta edição da CineBH, o ator Carlos Francisco é de Belo Horizonte, onde começou a carreira como artista de teatro, montando peças com amigos no quintal da casa de um deles. Durante o bate-papo realizado com o público no segundo dia da mostra, ele afirmou que sempre trabalha em busca de oportunidades: onde muitas pessoas enxergavam ou enxergam coisas ordinárias, Carlão – como é carinhosamente chamado no meio – vê possibilidades de criar.


Com extensa filmografia que inclui títulos de sucesso, Carlos Francisco foge de estereótipos e desenvolve personagens complexos, que transitam, por exemplo, entre a dureza de contextos periféricos e a sensibilidade de afetos familiares. A presença dele em cena é carregada de simbolismos e representa fortemente os diversos agentes que se empenham na construção de uma narrativa afro-brasileira no audiovisual brasileiro.


Para quem quer prestigiar o trabalho versátil e carregado de significado feito por Carlão, a curadoria da 19ª CineBH selecionou alguns títulos que representam a trajetória dele no cinema: A Máquina Infernal (2022), Estranho Caminho (2023), Marte Um (2022) e  O Agente Secreto (2025), além dos curtas Um homem que voa: Nelson Prudêncio (2013) e Nada (2015) – todos integrantes da Mostra Homenagem.


Leo Lara/ Universo Produção
Leo Lara/ Universo Produção

O artista ainda aparece no elenco de outras importantes produções do cinema nacional que também podem ser vistas gratuitamente nos dias da 19ª CineBH, entre elas Bacurau (2019), vencedor do Prêmio do Júri no Festival de Cannes. Já pela atuação em Marte Um (2022), Carlos Francisco colecionou passagens por festivais, foi sucesso de circuito e representou o Brasil na disputa por uma vaga ao Oscar de filme internacional em 2023.


“Sou um quilombola de formação oral e uma homenagem dessas me mostra que deu pra aprender direitinho”, afirmou Carlos ao receber o reconhecimento de familiares e amigos na cerimônia de abertura. Ele lembrou ainda da tia que o levou ao teatro pela primeira vez, experiência que despertou seu desejo de se tornar ator. “Isso é um estímulo a continuar fazendo”, completou o artista durante o discurso de agradecimento.


A CineBH começou no dia 23 de setembro, mas conta com uma vasta programação que se estende até o próximo domingo, dia 28 de setembro, com exibições, rodas de conversa e oficinas com diferentes espaços culturais da cidade. A cerimônia de abertura e os primeiros dias de evento foram uma amostra de como a curadoria conseguiu equilibrar densidade política, fabulação, enaltecendo a produção cinematográfica em um convite caloroso para que a população se aventure nas histórias projetadas nas telas, assim como na experiência ímpar de participar desta grande celebração do cinema nacional e latino-americano.


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